Criada por pesquisadores, Retina Vision desenvolveu inteligência artificial para leitura de placas e disparo de alertas de segurança; empresa agora faz parte da Gabriel, investida do SoftBank
A Gabriel anuncia a aquisição da Retina Vision, empresa de inovação fundada por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo). O grupo de cientistas foi responsável por criar uma plataforma de visão computacional que ensina câmeras de segurança a ler placas, detectar carros roubados e emitir alertas em tempo real. Lideranças do projeto também foram integradas aos quadros da startup.
Com a estratégia de proteger vizinhanças inteiras a partir de uma rede de câmeras inteligentes apontadas para a rua, a Gabriel recebeu em outubro um aporte de R$ 66 milhões, em rodada Series A liderada pelo fundo de investimentos japonês SoftBank. A primeira aquisição da empresa faz parte do objetivo de valorizar pesquisas de ponta, absorver talentos e oferecer soluções cada vez mais eficientes nas suas áreas de cobertura em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Com a tecnologia desenvolvida pela Retina Vision, as câmeras da Gabriel vão poder passar a ler qualquer tipo de placa, incluindo modelo Mercosul, e cruzar as informações automaticamente com dados do SINESP (Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública). Assim, a plataforma consegue gerar o status sobre roubo ou furto, marca, modelo e cor do carro – e emitir alerta ao detectar algum veículo relacionado a crime.
Compatível com mais de 6 mil tipos de câmeras de segurança, a plataforma usa técnicas de deep learning e identifica os caracteres individualmente, e não a partir de padrões sequenciais. Isso corrige problemas apresentados por outras alternativas do mercado, permitindo que seja possível aplicá-la em qualquer situação, independentemente da ordem ou quantidade de letras e números na placa. O sistema já foi testado em nove estados brasileiros e tem acurácia de 98%, também acima de outros produtos. Ele será incorporado à infraestrutura da Gabriel sem custos adicionais para seus clientes.
A inteligência artificial foi criada a partir da disciplina de Desenvolvimento Integrado de Produtos, da Escola Politécnica, da USP, em 2016. À época, o objetivo do projeto era encontrar soluções para cerca de 600 mil ocorrências de roubos ou furtos de veículos no Brasil, com prejuízo anual estimado em R$ 6 bilhões.
“Na USP, aprendemos a pensar soluções para problemas reais e colocar isso à prova. Criamos uma tecnologia de monitoramento inteligente, precisa e de baixo custo de aplicação, que auxilia objetivamente na gestão de segurança dos bairros”, afirma o físico e pesquisador Paulo Henrique Silveira, um dos fundadores da Retina Vision e que, agora, faz parte da equipe da Gabriel liderando os esforços em visão computacional da empresa.
O produto desenvolvido por Paulo e sua equipe também se adequa à visão da Gabriel sobre inteligência artificial aplicada à segurança. Ao identificar a ocorrência de um crime, a startup compartilha rapidamente as imagens com as autoridades policiais para auxiliá-las na resolução do problema. Para isso, a empresa não faz uso de algoritmos de reconhecimento facial.
“Na Gabriel, o nosso foco é sempre voltado para ação e para prevenção, nunca para presunção. A Retina Vision usa dados concretos e oferece informações relevantes que ajudam a proteger as pessoas. Isso mostra a importância de universidades desenvolverem projetos de ponta que trazem benefícios práticos para todos. Ao conhecer a tecnologia e sua aplicação, nosso interesse em adquiri-la foi imediato”, explica
Erick Coser, CEO da startup.
Com o investimento recebido e a expansão por bairros das cidades onde atua, a startup planeja outras aquisições. Hoje, a Gabriel opera em Pinheiros e Jardins, em São Paulo, além de Ipanema, Leblon, Lagoa, Copacabana, Botafogo, Flamengo, Gávea, Jardim Botânico e São Conrado, no Rio. A infraestrutura de monitoramento da empresa já auxiliou a polícia em mais de 340 investigações, ajudando a inocentar pessoas e a deter dezenas de assaltantes em série, golpistas de cartão de crédito e até quadrilhas especializadas em invasão de condomínio.